sexta-feira, 25 de novembro de 2011

DEFINIÇÃO DE FILHOS

"Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo ! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo".
José Saramago

SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

                 Florbela Espanca

                    

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

POESIA PARA ALDRABÕES

Tu, que tanto prometestes
enquanto nada podias,
hoje que podes - esqueceste
tudo o que prometias

António Aleixo

segunda-feira, 13 de junho de 2011

SANTO ANTÓNIO DE LISBOA

 

SANTO ANTÓNIO DE LISBOA


Fernando de seu nome de batismo, Santo António de Lisboa, ou Santo António de Pádua, nasceu por volta de 1195, em Lisboa, e morreu a 13 de junho de 1231, em Pádua, na Itália.
Aos vinte anos professou a vida religiosa entre os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no Mosteiro de S. Vicente de Fora. Ordenado sacerdote em 1220, fez-se frade franciscano no eremitério de Santo Antão dos Olivais, partindo depois para Marrocos em missão de apostolado aos muçulmanos.
Foi dos mais categorizados representantes da cultura cristã no período de transição da pré-escolástica para a escolástica. Figura notável pela sua erudição, impôs-se também pelo exemplo na pregação solene e doutrinal, na discussão com os hereges e no ensino nas escolas conventuais. Por isso, é ainda hoje considerado uma das personalidades franciscanas mais significativas.
Foi canonizado pelo papa Gregório IX, em 30 de maio de 1233. Em Pádua foi erigida uma conhecida basílica em sua memória, e lá se encontram as suas relíquias.

domingo, 1 de maio de 2011

PARA TI MÃE

A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto
.

 
Fernando Pessoa

domingo, 17 de abril de 2011

PÁSCOA DE AMOR

Vamos subir aos céus, como Jesus
Sentindo a alma leve e flutuante
Deixar no chão tudo que é mau (não satisfaz)
E encontrar no alto nosso Deus amante!

Sentir que a vida não é somente sonhos
A luta é dura, perversa, mas convém.
Pois se o caminho é tortuoso e cansa,
Encontraremos ao fim,nosso supremo bem!

Vamos fazer por merecer a elevação
- Fraternidade, carinho e fé no coração -
Quando no alto, não nos esquecer
De quem precisa e que ficou no chão!

Vamos erguer o irmão dessa pobreza
E lhe mostrar que a vida fica bem melhor
Se na conquista da riqueza verdadeira
Tivermos no peito um coração maior!

Ressurreição e Páscoa triunfantes!
Após o sofrimento que acabou na cruz
Mas para nós seus filhos, reservou fiel
Eternidade ao seu lado, vida e muita luz!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

PAINÉIS DE SÃO VICENTE DE FORA



É uma obra composta por seis painéis, criada essencialmente pelo pintor português Nuno Gonçalves entre 1470 e 1480.
Pintura a óleo e têmpera sobre madeira e está no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa.

Uma obra-prima da pintura portuguesa do século XV na qual, com estilo bastante seco mas poderosamente realista, se retratam figuras proeminentes da corte portuguesa de então, incluindo o que se presume ser um auto-retrato,e se atravessa toda a sociedade, da nobreza e clero até ao povo.

1º. Painel dos Frades
2º. Painel dos Pescadores
3º. Painel do Infante
4º. Painel do Arcebispo
5º. Painel dos Cavaleiros
6º. Painel da Relíquia

Investigações recentes, nomeadamente de Jorge Filipe de Almeida levam a concluir que os painéis foram pintados realmente por Nuno Gonçalves, cerca de 1445 e representam não S. Vicente, mas sim o funeral simbólico do Infante Santo.

domingo, 10 de abril de 2011

A ARTE DO ENVELHECER


Olhar a vida,
depois dos anos passados,
é perguntar ao tempo
o que foi feito mesmo
do tempo que nos foi dado.

Sentir que os cabelos embranqueceram,
os filhos sempre pequenos, cresceram;
apareceram deles outros herdeiros
e que tantos carnavais vividos
é sempre um convite para vive-los mais.

Viver mais, no limite máximo
que o desígnio do viver permita;
não ser econômico em gostar da vida:
fazer festa, ser a comida, a bebida,
ser espetáculo para ser visto e pedido bis.

Não ter vergonha de ser feliz,
Se quadrado, quadrado,
se moderno, moderno... e dai?

Passou o tempo de ter compostura,
mergulhar em alegria pura,
ser, como nunca dantes, audaz.

Saber-se obra por Deus construída
e jamais lamentar as feridas,
aos ingratos esboçar perdão,
das saudades fazer um colchão,
pra lembrar das maravilhas fruídas.

Ser idoso é coroamento
de um ciclo que o sol simboliza,
é passar de calor abrasante
que a força da juventude esparge
para o calor plácido e amigo
que, sem ele,
talvez nenhum ser sobreviva.

Envelhecer feliz
é provar que viver vale a pena.    
 
Roberto Caldas

segunda-feira, 4 de abril de 2011

ANUNCIAÇÃO





Surdo murmúrio do rio,
a deslizar, pausado, na planura.
Mensageiro moroso
dum recado comprido,
di-lo sem pressa ao alarmado ouvido
dos salgueirais:
a neve derreteu
nos píncaros da serra;
o gado berra
dentro dos currais,
a lembrar aos zagais
o fim do cativeiro;
anda no ar um perfumado cheiro
a terra revolvida;
o vento emudeceu;
o sol desceu;
a primavera vai chegar, florida.

Miguel Torga

sábado, 2 de abril de 2011

NOSTALGIA

Nesse País de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que plas aias reparti
Como outras rosas de Rainha Santa!

Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi...
Mostrem-se esse País onde eu nasci!
Mostrem-me o Reino de que eu sou Infanta!

Ó meu País de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!

Quero voltar! Não sei por onde vim...
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!

                            Florbela Espanca

terça-feira, 22 de março de 2011

LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


                          Fernando Pessoa

EXÍLIO

Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades


                       Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 21 de março de 2011

SORRISO AUDÍVEL DAS FOLHAS


Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.

Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.

Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?

Fernando Pessoa

sábado, 12 de março de 2011

VIAJAR ! PERDER PAÍSES !

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viajem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho de passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

domingo, 6 de fevereiro de 2011

VAIDOSA COMO UM PAVÃO

A coroa da idade é poder dizer
com todo à-vontade:
-Claro, agora já sou avó.

Nenhum sucesso na vida dá uma
maior sensação de realização do que
segurar nos braços os meus netos.

Os Homens que não se gabam das
suas vitórias, das suas realizações,
daquilo que possuem-
gabam-se escandalosameste
dos seus netos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CÂNTICO DE AMOR

Quando estou no silêncio
ouço a voz do meu amor por ti
à procura de dizer as palavras
que calei e teimo em guardar.

Aqui, neste meu mundo
que teimo em esquecer o teu cheiro,
no aroma que ficou entranhado
na minha pele, na paixão
de um fogo por acabar.

Não deixo de te amar!
Em tantos rostos tento olhar
em busca de te ver:
este amor que não parte ficou,
na saudade de não te ter.

São as estrelas que à noite iluminam
o vazio que deixaste
e na chuva de um outono
está a tristeza dos sorrisos que levaste
quando seguiste o caminho
sem mim.
Hoje na voz que canto
o amor do meu pranto;
o meu grande amor por ti.

Cidália M. Correia